terça-feira, 4 de setembro de 2012

GOLPE MILIONÁRIO NO INSS


ZERO HORA 04 de setembro de 2012 | N° 17182

PREJUÍZO MILIONÁRIO
Atestados falsos e um rombo no INSS. Investigação aponta que médico psiquiatra vendia documentos a R$ 140

THIAGO TIEZE 

Após cinco meses de investigação e outros quatro analisando informações, a Operação Blindagem II, realizada pela Polícia Federal (PF) e pela Previdência Social, apontou suspeitas de fraude em 945 benefícios que, distribuídos por 12 cidades do Estado e de Santa Catarina, chegam R$ 47,9 milhões. O grupo responsável pelo golpe milionário tem como peça central um médico psiquiatra que vendia laudos atestando doenças psiquiátricas por valores entre R$ 120 e R$ 140.

Ainvestigação apontou também o envolvimento de dois advogados e de um despachante previdenciário. Foram rastreados benefícios irregulares concedidos desde 2003. Conduzida pela delegada federal Ilienara Cristina Karas, da Delegacia de Repressão a Crimes Previdenciários, a operação identificou irregularidades em benefícios concedidos pelas agências de Porto Alegre, Santa Maria, Uruguaiana, Pelotas, Passo Fundo, Novo Hamburgo, Ijuí, Caxias do Sul, Canoas, Florianópolis, Criciúma e Chapecó:

– É o crime previdenciário mais em voga, porque o auxílio por doença psiquiátrica é muito difícil de você comprovar o contrário. Não há exame clínico ou laboratorial que prove a inexistência desse tipo de enfermidade.

O volume da fraude surpreendeu a própria delegada, que há 10 anos lida com esse tipo de crime:

– Ele (o médico) dava atestado de 15 em 15 minutos.

As investigações demonstraram que não havia servidores do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) envolvidos. Os benefícios estão sendo analisados pelo órgão e, se comprovada a fraude, serão cassados. Depois, o resultado da investigação será encaminhado ao Ministério Público Federal. Os beneficiados poderão responder por estelionato contra a Previdência. Os advogados, o médico e o despachante, além de estelionato, são suspeitos de falsidade de documento público e fraude processual.

A investigação começou em novembro, e a Blindagem II foi deflagrada em março deste ano, quando se estimou que o quarteto tivesse fraudado em torno de R$ 3 milhões. Na época, médico, advogados e despachante tiveram a suspensão de exercício de atividade econômica determinada (não puderam atuar em suas áreas) pela Justiça. Após recurso, a suspensão foi cassada.


O golpe

- O médico psiquiatra, que atende em Porto Alegre, era ajudado por dois advogados e um despachante previdenciário.
- As pessoas chegavam ao médico de duas formas: por indicação dos outros três comparsas ou por meio de outros clientes.
- O médico expedia atestados de doenças psiquiátricas inexistentes nos clientes, cobrando entre R$ 120 e R$ 140. Às vezes, os clientes nem sequer compareciam ao consultório, recebendo o documento pelos Correios.
- Com o atestado, os clientes iam às agências do INSS no Estado ou em Santa Catarina e entravam com pedidos de auxílio-doença ou de aposentadoria por invalidez.