segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

TIRANDO DINHEIRO DE MULHERES APAIXONADAS PELO PARCEIRO VIRTUAL

G1 FANTÁSTICO - Edição do dia 07/12/2014

Golpistas usam internet para tirar dinheiro de mulheres apaixonadas. Quadrilha usa sites de relacionamento para extorquir dinheiro de mulheres. Uma das vítimas chegou a mandar R$ 102 mil para o farsante.






Um alerta às mulheres que procuram um parceiro na internet. Por trás de promessas de amor e declarações apaixonadas, pode estar um golpista querendo dinheiro fácil.

Mulheres bem-sucedidas, profissionais respeitadas, inteligentes, e com mais uma coisa em comum: caíram no golpe do estrangeiro apaixonado.

“Eu vi uma foto de um homem que deixou uma mensagem em português. E eu achei interessante. Se identificou sendo de Londres. Ele me achou uma pessoa muito bonita. Ele também era bonito, atraente. Começamos a nos relacionar como se estivéssemos namorando mesmo”, conta uma das vítimas.

Essas duas psicólogas, vítimas do golpe, não querem se identificar. Têm vergonha de terem sido enganadas. Mas os golpistas são envolventes.

Nós vamos chamá-las, nesta reportagem, de Ana e Marina - dois nomes fictícios.

“Chegava aquela hora, eu já ligava o computador e ele já estava me esperando, dizendo: ‘Minha querida, meu anjo, que saudade de você, você é a mulher da minha vida, não vejo a hora de te conhecer pessoalmente’”, relata Ana.

“O perfil dessas pessoas que acabam se envolvendo pela internet já vem desse perfil de pessoas que desejam e que têm essa vontade de ter esses relacionamentos onde nada é imperfeito”, afirma a psicóloga Andrea Jotta.

“Ele colocava a filha dele também para falar comigo pelo telefone. Alguma criança que ele dizia que era filha”, lembra Ana.

Marina: Conversei duas vezes com a menina. Ela perguntou se ia ser minha filha.
Fantástico: Isso te tocou, né?
Marina: Isso me tocou. Possibilidade de ter uma filha, me tocou, sim. Ele soube envolver.

Por trás do tal inglês apaixonado, está uma quadrilha especializada em extorquir dinheiro de mulheres. Para se comunicar em português, eles usam a ferramenta de tradução da própria internet. Depois que percebem que a vítima está envolvida, inventam uma história qualquer para pedir um adiantamento e prometem vir ao Brasil e devolver o dinheiro.

“Ele me contou que ele tinha uma herança para receber do pai dele, mas a condição é que ele fosse casado. Ele me pediu em casamento e aí começou a processo”, explica Marina.

Ana: Aí, eu fiz...
Fantástico: Você fez a primeira remessa?
Ana: Fiz a primeira remessa de US$ 1 mil que ele havia me pedido. Eu mandei mais uma remessa de 4 mil e poucos dólares para ele e para filha dele. Aí, no dia seguinte, ele falou: ‘Olha, eu preciso de mais dinheiro’. Então, acabei mandando mais uma remessa de US$ 3,8 mil. Eu sei que, no total, foram US$ 11,4 mil.

Fantástico: Quanto você transferiu no total?
Marina: Em torno de R$ 102 mil.

“Algumas de certa forma acabam pagando ou entregando por medo ou receio de que aquele ser do outro lado, de repente, desapareça. Existe uma lacuna aí nesse emocional que não quer acreditar que aquilo vai deixar de existir”, comenta a psicóloga Andrea Jotta.

No interior de São Paulo, Luiza - que também usa nome fictício - foi procurada por um golpista, mas desconfiou.

“Eu percebi na rede social que ele buscava mulheres maduras e não jovenzinhas. Então, eu já liguei os fatos”, explica Luiza.

Ela pediu ajuda a um especialista em segurança na internet.

Os dois prepararam uma armadilha para o golpista: ele teria que dar o endereço de um e-mail para ser rastreado, mas o falso pretendente não caiu e perguntou se ela queria levá-lo à polícia.

Fantástico: Quantos casos desse tipo você já teve em mãos? De mulheres que sofrem esse tipo de extorsão?
Wanderson Castilho (perito em segurança digital): Já tive mais de 200 casos. Eles têm muito conhecimento tecnológico e têm muito conhecimento também sobre a relação humana. E aí ele consegue criar esse elo sentimental. Deixa a vítima cega e eles pedem tudo o que eles querem.

“Manda flores, manda presentes. Qual mulher que não gosta de ganhar flores ou presentes?”, argumenta Luiza.

Fantástico: De onde são essas quadrilhas?
Wanderson Castilho: Existem várias quadrilhas espalhadas pelo mundo, mas as mais focadas estão na África. Nigéria especificamente. Esse e-mail aqui partiu dos suspeitos para uma vítima. Se dizia ser de Londres. O que a gente vai fazer agora é rastrear este e-mail. O e-mail dizia sair de Londres. Na verdade está saindo da Nigéria, Lagos. Aqui é a localização da onde saiu esse e-mail verdadeiramente.
Fantástico: Adianta procurar a polícia num caso desses?
Wanderson Castilho: Desconheço qualquer autoridade que conseguiu fazer um tipo de prisão disso aqui.

Para não cair no golpe, é preciso estar atenta a algumas dicas:
- Identifique de onde partiu o convite de amizade, se ele conhece alguém na sua rede social.
- Desconfie de quem não quer aparecer na câmera nem falar ao telefone.
- Guarde todas as mensagens e releia com atenção o histórico em busca de alguma mentira ou contradição.

Fantástico: Quer dizer, afetou sua vida afetiva, emocional, tudo...
Ana: Uhum
Fantástico: Financeira...
Ana: Financeira, emocional...
Fantástico: Profissional, tudo...
Ana: Profissional. Todos os meses eu pago essa dívida, porque os juros bancários são muito altos.

“Eu não acreditava que um ser humano chegar a esse ponto, de te envolver a esse ponto, de mexer com os seus sonhos. Então, eu fiquei muito mal”, diz Marina.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

LEITE COM ÁGUA E SAL

ZERO HORA  03/12/2014


Operação Leite Compen$ado tenta prender 17 suspeitos após descobrir adulteração com água e sal. Promotores e policiais cumprem 17 mandados de prisão em seis municípios gaúchos

por Caio Cigana



Adulteração desta vez consistia na adição de água para ganhar em volume e sal para disfarçar a diluição Foto: Diogo Zanatta / Especial


A ganância dos fraudadores parece não ter fim no Rio Grande do Sul. Mesmo após seis fases da Operação Leite Compen$ado que desde o ano passado já levaram 20 pessoas à cadeia, uma nova adulteração foi descoberta e é alvo mais uma operação do Ministério Público Estadual (MPE) na manhã desta quarta-feira no norte do Estado.

Estão sendo cumpridos 17 mandados de prisão e outros 17 de busca e apreensão em seis municípios gaúchos — Erechim, Jacutinga, Maximiliano de Almeida, Gaurama, Viadutos e Machadinho. Até as 11h, sete pessoas estavam detidas e duas foragidas.

Conforme o MPE, estão envolvidos criadores, transportadores, responsáveis por postos de resfriamento, laboratoristas e motoristas de caminhões. Segundo o promotor Mauro Rockenbach, responsável pelas investigações na esfera criminal, a fraude desta vez consistia na adição de água para ganhar em volume e sal para disfarçar a diluição.

— A fraude era para ganhar em volume e diminuía o valor nutricional do leite — explicou Rockenbach.

Em regra, era adicionado ao leite mais 10% do volume equivalente em água. Em alguns casos, porém, a proporção chegava a 40%. Ainda não há informação de quais marcas teriam recebido o produto adulterado e para onde esses lotes teriam sido encaminhados.


O esquema, segundo o MPE, teria início com produtores de Viadutos, Machadinho e Maximiliano de Almeida, que colocavam água no alimento. Depois, o leite seria coletado pela empresa Transportes Rafinha, que tem como sócios Walter Roberto Krukowski e Paulo César Bernstein. A dupla também seria responsável por dirigir os caminhões, assim como os funcionários da empresa Divonir Longo Rambo, Sidmar Ribeiro Rodrigues, Indionei Eliezer de Souza, Genoir Roque Hojnowski, Paulo César Ruhmke e Matheus Alberto Burggraf. O ganho com a fraude seria dividido entre produtores, empresários e motoristas.

Na etapa seguinte, o leite chegaria nos postos de resfriamento Rempel & Coghetto Ltda, em Jacutinga e, outro da Cooperativa Tritícola Erechim Ltda (Cotrel), em Erechim. Segundo o MP, o proprietário do posto de Jacutinga, Amauri Rempel, fazia parte do esquema, assim como as laboratoristas Andresa Segatt e Elizete Marli Bessegato. Arino Adalberto Adami, responsável pelo poço de resfriamento da Cotrel, e Angelo Antonio Paraboni Filho, diretor da Cotrel, também faziam parte do esquema.


Por causa da suspeita de terem recebido o produto adulterado sem informar ao Ministério da Agricultura (Mapa), os responsáveis pelas empresas tiveram as prisões preventivas decretadas. O papel das laboratoristas era alterar ou omitir dados nas planilhas de análise do leite depois levadas ao Mapa. Mesmo assim, 62 laudos do ministério detectaram a adulteração.​

Contrapontos

Cotrel
"Estamos nos inteirando dos fatos. A cooperativa entende que vem cumprindo a legislação e fazendo todos os testes e análises necessários. Vamos analisar as provas que estiverem nos autos".
Nasser Khalaf, advogado da Cotrel

Zero Hora está tentando contato com outras empresas envolvidas na operação.

* Zero Hora