ZERO HORA 13 de julho de 2012 | N° 17129
Pastores são presos por golpe. Atraídas por ofertas vantajosas de veículos, vítimas sofreram prejuízo de R$ 20 milhões no Brasil, dos quais 1,2 milhão no RS - RÓGER RUFFATO | Veranópolis
Entre pregações e a coordenação de igrejas evangélicas, pastores ganhariam a vida iludindo fiéis pelo Brasil. No Rio Grande do Sul, pelo menos 40 pessoas foram lesadas em R$ 1,2 milhão. Uma mulher apontada como mentora do golpe está foragida.
Chamada de Deus Tá Vendo, uma operação da Polícia Civil gaúcha cumpriu cinco mandados de prisão temporária durante a tarde de quarta-feira em Itajaí (SC), Ponta Grossa (PR) e São Gonçalo (RJ). Os pregadores dessas regiões são suspeitos de participar de um esquema de venda fraudulenta de veículos que teria arrecadado cerca de R$ 20 milhões em todo o Brasil.
As denúncias chegaram à Polícia Civil depois que um policial e um familiar do delegado titular de Veranópolis, Marcelo dos Santos Ferrugem, caíram no golpe. As investigações tiveram início em novembro de 2011.
– Continuaremos as buscas pela mulher e solicitaremos à Justiça de Veranópolis a prorrogação das prisões temporárias de todos suspeitos, por mais cinco dias – destacou o delegado regional, Paulo Roberto Rosa da Silva.
Para o cumprimento dos mandados de prisão, cinco delegados e 11 agentes gaúchos participaram das diligências, além do reforço das polícias dos demais Estados. Os pastores detidos foram recolhidos ao Presídio Regional de Nova Prata e devem responder por estelionato, formação de quadrilha e falsificação de documentos.
As vítimas gaúchas são na grande maioria de Veranópolis, onde residem 37 delas. Há mais duas de Bento Gonçalves e uma de Nova Prata. O grupo aplicava os golpes também em Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. A polícia não divulgou o nome dos presos.
ENTREVISTA- “Jamais desconfiaria de um amigo e pastor”
Nivaldo Penso - Vítima do golpeO empresário de Bento Gonçalves Nivaldo Penso, 42 anos, foi vítima do golpe e detalhou o esquema ao Jornal Pioneiro. Confira a entrevista:
Jornal Pioneiro – Como a oferta de compra de veículos foi feita?
Nivaldo Penso – Quem me ofereceu foi um amigo pessoal que frequentava a minha casa e, inclusive, viajávamos juntos com as famílias. Jamais poderia desconfiar de um amigo e pastor. Ele tinha uma planilha de venda com os modelos e valores. Negociei um ônibus no valor de R$ 25 mil e uma caminhonete por R$ 20 mil.
Pioneiro – Como era feito o pagamento?
Penso – Sempre com depósito à vista. Um dos valores foi pedido que eu depositasse na conta da Igreja Presbiteriana Viva, do Rio de Janeiro, e o outro na conta de uma pessoa física ligada à Igreja Assembleia de Deus Bom Retiro, em São Paulo. Como ele disse que os carros foram doados para a igreja pela Receita Federal, não estranhei naquele momento a forma de pagamento ou os valores.
Pioneiro – Quando você passou a desconfiar que se tratava de um golpe?
Penso – Eles tinham prometido a entrega dos veículos para 30 dias a partir da data do depósito, mas, passou o prazo, e nada. Entrei em contato e sempre protelavam mais a entrega. Diziam que era um processo lento e que era para ter calma. Começaram a inventar desculpas. Então, soube por conhecidos que outras pessoas também passavam pelo mesmo problema, em Veranópolis, e fui atrás delas.
Como funcionava |
-
Uma mulher, que se apresentava como juíza da Receita Federal no Rio de
Janeiro ou como auditora do órgão, se aproximava de pastores evangélicos
de vários Estados e fazia uma proposta de trabalho. |
-
Ela fornecia aos pastores uma listagem contendo modelos e preços de
carros, caminhonetes, caminhões e ônibus. Os preços eram mais de 50%
abaixo do preço de mercado. |
- Caso
eles vendessem um determinado número de veículos, receberiam uma
comissão e um carro ao término das vendas. A justificativa para o preço
era de que se tratava de veículos doados pela Receita Federal para serem
vendidos entre as igrejas. |
- Os
pastores por sua vez usavam as planilhas para oferecer os veículos para
um grupo pequeno de pessoas, normalmente amigos e um número reduzido de
fiéis, para não alarmar. |
- Os
pagamentos eram sempre à vista, com depósitos em conta de igrejas ou
laranjas. Normalmente, o dinheiro ficava poucas horas na conta e era
repassado para a mulher que, segundo a polícia, seria a gerente de
operações do grupo. |
- Os carros,
que nunca existiram, não eram entregues, e as vítimas passaram a cobrar
dos pastores. Algumas reuniões chegaram a ser marcadas como tática para
acalmar as pessoas que seguiram sem os bens. |
Fonte: Fonte: Polícia Civil |