quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

FALCATRUAS SA


ZERO HORA 13 de dezembro de 2012 | N° 17282

Especializados em enganar e falsificar documentos

Organizado como empresa, grupo desbaratado pela polícia aplicava golpes e pirateava produtos de grife


EDUARDO TORRES


Tudo funcionava como uma empresa. Tinha proprietários, supervisores, agentes e até contador. Mas todos dedicados ao estelionato de diversas formas. A quadrilha foi desbaratada ontem após seis meses de investigação da Delegacia Fazendária da Polícia Civil.

A partir do casal Luis Benoni Melo Carvalho e Janaína Suziak, presos temporariamente em casa, ontem pela manhã, no bairro Jardim Algarve, em Alvorada, a polícia identificou mais de 30 “funcionários” que atuavam nos ramos de falsificação de documentos, golpes contra financeiras, bancos e o programa Minha Casa Minha Vida e distribuição de produtos piratas no centro de Porto Alegre. Na ação que mobilizou 350 policiais, 25 suspeitos foram presos.

Com a chegada à origem de um documento adulterado, os investigadores descobriram que aquela era apenas uma ponta do conglomerado especializado em fraudes.

– Eles atuavam basicamente no Centro. Era a partir dali, com a propaganda de boca a boca, que tramavam os golpes, cooptavam “laranjas” e faziam suas vítimas – diz o delegado.

O “escritório” era um bar na Rua Riachuelo, no centro da Capital. Entre uma cerveja e outra, surgiam as oportunidades para encaminhar novos negócios.

Para o delegado Daniel Mendelski, que comandou a Operação Banco Imobiliário pela Delegacia Fazendária, é difícil precisar o montante dos lucros dos criminosos.

– Essa era a atividade deles. Chegavam ao bar de manhã e decidiam: “agora vamos aplicar uma financeira”, ou “está chegando o final de semana, vamos fazer um crediário”. E faziam tudo com os documentos frios – exemplificou Daniel Mendelski.

Tudo era organizado. Quem fazia os golpes, devia satisfações ao casal. Por vezes, quem ficava na linha de frente do esquema nem tinha contato com a liderança. E, exatamente como uma firma, a maior parte dos lucros nos golpes ia para as mãos dos líderes. Além dos presos em Alvorada, a ação de ontem teve prisões nos bairros Rubem Berta e Partenon, e em Guaíba e Canoas.





Como agiam
MINHA CASA, MINHA VIDA
- Os alvos da quadrilha eram pessoas de baixa renda, em especial, na zona sul da Capital. Nessa área, o homem conhecido como Bira garantia que trabalhava como representante autorizado pela Caixa para agilizar aprovações de financiamentos pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Para isso, exigia o pagamento de “reforços”, que giravam em torno de R$ 500, como forma de garantir a aprovação junto ao órgão federal. Mas as vítimas nunca recebiam aprovação ou viam a cor da casa.
- Famílias de baixa renda, na verdade, não precisam da figura do facilitador. Uma vez inscritas no Demhab, é o órgão municipal quem faz a primeira avaliação da renda e das condições da família e encaminha o processo até Brasília. Uma vez aprovado, a pessoa é contatada diretamente pela Caixa ou pelo Demhab.
FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTOS
- Um dos presos na ação seria o responsável pelo maquinário gráfico do bando. E as falsificações eram as mais abrangentes possíveis. De talões de cheques frios, que chegavam a ser vendidos por apenas R$ 15, até carteiras de identidade, CNHs, comprovantes de residência e de renda.
- A operação geralmente era iniciada nos bares do Centro. Havia pessoas encarregadas de cooptar potenciais “laranjas”. Estes “vendiam” por quantias irrisórias (até R$ 100) o nome e o CPF, sem restrições de crédito. Parte do bando tinha a sua atuação limitada à confecção e venda dos documentos falsos.
INDÚSTRIA DE GOLPES
- Os investigadores seguiram a trilha do financiamento jamais pago. Quando chegaram ao suposto proprietário (e devedor), descobriram que se tratava de um andarilho cooptado no “escritório” da firma falcatrua. Em troca de algumas cervejas, ele teria emprestado seus dados.
- Usando documentos frios, os criminosos adquiriam carros, eletrodomésticos, roupas e empréstimos em bancos e financeiras.
PIRATARIA
- A suspeita da polícia é de que o Camelódromo fosse o principal escoadouro do quarto braço da quadrilha. Eles haviam se tornado fornecedores de produtos piratas, em especial tênis e roupas de grifes famosas. A origem dos produtos e o volume comercializado ainda são investigados.
- Na ação de ontem, os agentes chegaram aos depósitos da pirataria.

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