ZERO HORA 03 de março de 2013 | N° 17360
FIM DE CARREIRA. Morte e ressurreição do ídolo
Sady Baby chegou a virar lenda morta, para os fãs. Segundo vários sites, Sady teria morrido em 16 de agosto de 2008 ao saltar de uma ponte do Rio Uruguai, perto de onde nasceu, desgostoso com investigações que a Polícia Federal fazia sobre ele. É que, após recrutar atrizes, transar com elas na frente das câmeras, fazer roteiros em que vira astro principal e dirigir seus próprios filmes, Sady teve uma ideia que acabou com sua carreira: colocou uma de suas próprias filhas, de 17 anos (já emancipada), a fazer um filme pornô. O filme foi apreendido pela PF antes de ser lançado, mas aí Sady já respondia a inquérito por corrupção de menor. Desempregado e endividado, teria decidido acabar com o próprio sofrimento.
Quem jurou que Sady tinha se matado era uma de suas ex-mulheres e também ex-atriz de filmes pornôs, Inglid Becker Luto, em texto colocado no Orkut em 22 de agosto de 2008. A descrição da morte do cineasta foi dada por ela em detalhes chorosos:
“Caminhamos, andamos de carona mais de 20 dias juntos, em torno de mil quilômetros, até a ponte do Rio Uruguai (limite de Chapecó, Santa Catarina, e Nonoai). Durante toda estrada tentei tirar da cabeça dele que isso era uma loucura, mas não adiantou, ele quis dar o fim na vida... A maior tristeza foi quando as autoridades não acreditaram que ele podia fazer o filme com a emancipação das meninas. Então ele preferiu ir. A ponte tem uns 20 metros de altura e mais uns 50 de profundidade ou mais, não sei e o Sady não sabia nadar... Quando ele estava se afogando, ele me abanou. Depois a correnteza o levou”, descreve Inglid, na postagem.
O post virou viral entre admiradores do cinema pornô brasileiro. Afinal, Sady fez alguns clássicos do gênero, como O ônibus da Suruba (descrito por um crítico como “um road movie erótico caboclo”), Cresce na Boca, Paraíso da Sacanagem e Soltando a Franga, entre outros. Chegou a ser processado, no Rio Grande do Sul, por um ator pornô que o acusava de não pagar pelo serviço.
Mas Sady, agora se sabe, estava vivo, como admitiu informalmente aos policiais rodoviários federais que o prenderam. Vivo e de peruca, como os patrulheiros descobriram, ao mexer no seu cabelo. Recobrado do susto da prisão, já na Delegacia da Polícia Civil de São Marcos, preferiu ficar em silêncio e disse à delegada Marinês Trevisan que só falará em juízo. Ela vai investigar se ele simulou a própria morte.
A prisão não chegou a espantar quem conhece Sady, como o jornalista paulistano Gio Mendes, pesquisador da Boca do Lixo. E, sim, o fato de Sady ter reaparecido no mundo dos vivos, ainda que não de forma triunfal.
– A queda de um mito – resume Gio.
O cineasta de 6 mil mulheres
Diretor famoso por produções pornô foi preso no RS, suspeito de aplicar golpes em três Estados e de simular a própria morte
Amarga uma temporada atrás das grades da Penitenciária Industrial de Caxias do Sul, desde segunda-feira, uma lenda do submundo pornô brasileiro, o cineasta gaúcho Sady Plauth, conhecido pelos fãs como Sady Baby. Mais que a prisão, o que surpreendeu seus admiradores é o fato desse ator de cabelos encaracolados (muitas vezes confundido com o cantor Ovelha) estar vivo.
Sim! É que desde 2008 correntes de mensagens e sites anunciam que Sady, famoso diretor da Boca do Lixo paulistana, se suicidou saltando de uma ponte do Rio Uruguai, na divisa entre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. Perto de onde nasceu há 59 anos, em Itatiba do Sul, antigo distrito de Erechim.
Mas Sady está vivo, comemoram os fãs, em mensagens variadas no Facebook. E bem vivo, diriam seus muitos desafetos. A começar pelas pessoas que o acusam de estelionato. O cineasta foi preso em flagrante após passar um cheque sem fundos numa tenda de produtos coloniais na estrada Caxias do Sul-São Marcos (BR-116), segunda-feira. A comerciante Terezinha Menegon disse que o condutor de um Meriva e sua mulher compraram sucos de uva, uma cesta de palha cheia de geleia, pepinos e produtos coloniais, no valor de R$ 247, e fugiram ao ter solicitada a identidade.
Avisados, policiais rodoviários federais pegaram uma descrição do Meriva conduzido pelo ator e fizeram uma barreira na entrada de Caxias do Sul. Deu certo. Ao abordar o fugitivo, ele apresentou o nome de Alaor dos Santos, de Marau. Desconfiados, os policiais ligaram para colegas da Polícia Civil daquela cidade gaúcha e descobriram que Alaor é uma vítima: teve seus documentos e cheques usados por Sady Baby. O cineasta teria adquirido documentos falsos em nome de Alaor, em São Paulo. E, com eles, aberto contas nos bancos Banrisul, Santander e do Brasil. O caso resultou num mandado de prisão por estelionato contra Sady, expedido pela 1ª Vara Criminal de Caçador (SC) e inquéritos por estelionato em cidades gaúchas como Marau, Coxilha, Passo Fundo e São Marcos, além de Cascavel (PR).
– E quem é Sady Baby? – perguntou o policial Gerson Galli, que prendeu o cineasta.
Um colega mais velho lembrava vagamente desse nome. Consultou a internet e...bingo! Antes da fama de estelionatário, Sady Baby era uma lenda viva da pornografia brasileira.
Os policiais ficaram sabendo que mulheres são a vida, o ganha-pão e a perdição de Sady Baby. Em 2008, já foragido, ele concedeu entrevista a uma revista de São Paulo especializada em cinema underground, a Zingu. Questionado sobre quantas relações sexuais teve na vida, não vacilou:
– Ah. Eu vou completar um número redondo no final do ano. Tenho uma média de transar duas ou três vezes por semana, com mulheres diferentes. Então, 12 por mês, 144 por ano, vai dar umas 6 mil, esse é o meu limite. Depois, o que vier é lucro...sei lá, eu gosto.
Briga na TV e dúvida sobre a paternidade
Gosta tanto que virou um dos mais famosos cineastas pornô do Brasil, ao lado do também famoso David Cardoso, seu ídolo. E como o ídolo, ele gosta de exercer o papel principal nos seus filmes, com transas reais.
E qual seu tipo de mulher?
– Todas – resume, na entrevista. – Mas prefiro maior que eu. Eu sempre gostei de mulher maior que eu. Eu tenho uma frase: “de pequeno chega eu e o meu ordenado” – declarou, rindo, o ídolo da pornochanchada.
A semelhança com o cantor Ovelha – a quem Sady apelidou de O Clone – rendeu uma briga entre os dois, que foi parar na TV. No programa Superpop, apresentado por Luciana Gimenez na RedeTV, a atual mulher de Sady, a gaúcha Patrícia Inglês da Silva (a mesma presa com ele pelo estelionato aplicado em São Marcos), deu entrevista dizendo que não sabia se o filho de dois anos que ela tinha era de Ovelha ou de Sady. Isso foi em 2005, e a discussão rendeu vários programas.
– Quem será o pai do Ovelhinha? – perguntava Luciana.
A dúvida veio com um exame de DNA, cujo resultado foi revelado no programa: a criança era mesmo filha de Sady. Que decidiu ficar com Patrícia, desde então. Os dois acabaram presos, juntos, em Caxias esta semana. Devem ser transferidos para Caçador.
HUMBERTO TREZZI
Contraponto. O que diz Carlos Castilho, nomeado defensor de Sady Baby durante a prisão - “Atuei como defensor dele apenas no momento da prisão em flagrante. Aconselhei o Sady a não falar nada e só se pronunciar na fase judicial, já que é de outro Estado e não sabemos detalhes das acusações contra ele. Ele responde a inquéritos nas polícias Civil e Federal”.