segunda-feira, 25 de agosto de 2014

HACKERS: UM NOVO ARSENAL DE GOLPES

REVISTA ISTO É N° Edição: 2335 Atualizado em 25.Ago.14 - 15:49


Cada vez mais sofisticados, crimes virtuais usam engenharia social e aproveitam vulnerabilidades em smartphones e até em redes de ar-condicionado


Lucas Bessel


Conforme-se: em algum momento da vida, você, sua família ou sua empresa serão vítimas de uma tentativa de golpe aplicada por um hacker. E isso provavelmente acontecerá mais de uma vez. Num mundo conectado em que os computadores são apenas uma das muitas portas de entrada para criminosos virtuais, as táticas usadas para subtrair dados confidenciais, roubar dinheiro ou espionar concorrentes são cada vez mais elaboradas (confira quadro). Na semana passada, especialistas baseados nos Estados Unidos descobriram que hackers já conseguem interceptar conteúdos aparentemente inofensivos – como vídeos de gatos no YouTube – para infectá-los e, em seguida, repassá-los à dona de casa inocente, ganhando acesso a dados confidenciais. O Google, dono do serviço de vídeos mais famoso do mundo, e a Microsoft, que também está suscetível, já foram comunicados e trabalham para corrigir as vulnerabilidades.



Os golpistas também se aproveitam de informações que todos nós, voluntariamente, publicamos na rede. A partir de dados disponíveis no Facebook, no LinkedIn e em outros sites do tipo, os criminosos fazem a chamada “engenharia social” e criam esquemas cada vez mais personalizados – e, consequentemente, mais efetivos. “O hacker envia um e-mail com uma suposta ordem de pagamento para um alvo específico na empresa, liga para o telefone dele, finge ser um sujeito de alto escalão e ordena que essa pessoa baixe o anexo infectado”, exemplifica André Carraretto, estrategista em segurança da informação da Symantec no Brasil.


CONFIÁVEL?
Larry Page, do Google: mesmo serviços consagrados,
como o YouTube, não estão livres de brechas para ataques

As táticas de extorsão da vida real também têm sido replicadas no ambiente virtual. Em junho, o FBI e outras agências de segurança se uniram para acabar com um programa malicioso chamado CryptoLocker, que sequestrava dados sigilosos e cobrava um resgate, pago eletronicamente, para liberá-los. “A indústria do crime virtual evolui como qualquer outra e também aperfeiçoa seus métodos”, diz Marcelo Bezerra, gerente de engenharia de segurança da Cisco da América Latina.

Nas grandes empresas, o trabalho de segurança hoje é focado na identificação imediata de invasões – com sistemas complexos que monitoram dados em tempo real –, uma vez que é impossível se livrar de todas as ameaças. Para o usuário doméstico, as recomendações são bem conhecidas: só acessar conteúdo de fontes conhecidas, manter sistema operacional e antivírus atualizados e ter muito critério com as informações publicadas em redes sociais.



Foto: Jeff Chiu/ AP Photo


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

GOLPE DA CASA PRÓPRIA

DIÁRIO GAÚCHO 22/08/2014 | 07h04

Eduardo Torres

Fique atento ao golpe da casa própria. Pelo menos 20 pessoas pagaram por casas pré-fabricadas em Gravataí e não receberam nada. Polícia investiga a possível volta do golpe da casa própria



Casa inacabada em viamão é obra de empresa investigada pela Polícia CivilFoto: Divulgação / Arquivo Pessoal


Foram dois anos de trabalho juntando o dinheiro para conquistar a sonhada casa nova para a família. Mas, há dois meses, a enfermeira Helen dos Passos Espíndola, 28 anos, está morando com o filho de apenas três meses e o marido na casa da sogra, em Viamão. Ela amarga mais de R$ 17 mil de prejuízo e a sensação de que foi vítima de um golpe ao comprar uma casa pré-fabricada da empresa Constru Art, de Gravataí.

O caso chegou à polícia, que já abriu inquéritos para apurar possível estelionato em pelo menos outros 20 casos semelhantes na cidade. De acordo com o delegado Eibert Moreira, da 1ª DP de Gravataí, todos os relatos são muito parecidos. As pessoas teriam pagado para receber suas casas a pronta entrega, que nunca acontecia.

– Há indícios de crime, mas vamos investigar todas as circunstâncias de que o serviço não tenha sido cumprido por essa empresa – aponta o delegado.

Há vítimas em cidades da Região Metropolitana

A suspeita é de que tenha voltado à cidade o antigo golpe da casa própria, descoberto pela polícia em outras empresas do mesmo ramo há 13 anos. Os prejudicados dessa vez são de Gravataí, Canoas, Cachoeirinha, Viamão, Eldorado do Sul, Porto Alegre e até do Litoral.

O atrativo, em anúncios de jornais, era sempre o preço acessível – entre R$ 9 mil e R$ 35 mil, dependendo do padrão da casa _ e a agilidade na entrega. Foi pensando nisso que, em junho, Helen procurou a Constru Art, na ERS-020. Pelo contrato, a casa deveria ser construída em dois meses.

– Como tudo seria muito rápido, derrubamos a casinha velha de madeira que tínhamos no terreno, em Viamão, e até aterramos tudo para deixar o terreno plano, mas fomos enrolados – lamenta.

Depois de diversas tentativas, a enfermeira não foi nem mesmo atendida pela empresa, que há duas semanas teria fechado as portas.

Sonho de construir casa na praia

No caso da pedagoga Maria da Glória Rodrigues, 30 anos, o sonho era de construir uma casa na praia. Em abril, fechou contrato com a mesma empresa. Depois de pagar 30% do valor no momento da assinatura do contrato, ainda desembolsou outros 50% quando parte do material foi entregue no terreno, em Imbé.
Só depois constatou que era tudo fachada. Depois de uma semana, os pedreiros sumiram do local, tendo feito somente o alicerce e metade das paredes do banheiro. Era para o que dava o material entregue.
– Eu cheguei a pesquisar na internet com todo o cuidado o histórico dessa empresa e não vi nada que desabonasse eles. Só depois fui conhecendo outras vítimas _ conta.

É que a situação dela é exatamente a mesma vivida por uma família de Viamão. O último prazo para entrega da casa era o começo deste mês. E nada, exceto o prejuízo de R$ 18 mil, aconteceu.

– Dificilmente vou ter meu dinheiro de volta, mas pelo menos vamos alertar para que não façam mais vítimas – desabafa a pedagoga.

Três mudanças em dois anos

Além do grande número de pessoas prejudicadas, a polícia também vai investigar outra possível estratégia da empresa que podem caracterizar um estelionato. No intervalo de apenas dois anos, os responsáveis já teriam trocado de nome comercial e endereço três vezes.

Até 2013, a empresa funcionava na ERS-118, primeiro com o nome de Casagrande. Depois, como Constru Art. Com o mesmo nome, mudou para outro endereço, na ERS-020, Bairro Neópolis. Durante todo este tempo, uma mesma mulher, de 27 anos, se apresentava como responsável.

Em julho, no entanto, a empresa fechou as portas sem dar explicações aos clientes prejudicados. Uma nova empresa, com outro nome, abriu logo em seguida, em um endereço próximo. A polícia investiga a suspeita de que a mesma empresária esteja por trás deste estabelecimento.

Durante dois dias a reportagem do Diário tentou contato com a responsável pelos telefones anunciados pela empresa, mas não obteve sucesso.


Como funciona o golpe

Anúncios de casas em madeira, pré-moldadas, com garantia de pronta entrega e preços baixos, variando entre R$ 9 mil e R$ 35 mil, atraem os clientes.

Os compradores assinam um contrato, pagando 30% do valor no ato. É acertado que outros 50% são pagos no momento em que os materiais são entregues no local onde a casa será montada. O restante do valor seria pago no final da obra. Mas boa parte dos clientes, usando financiamento, quitam o valor no momento da contratação.

O prazo máximo estipulado pelo contrato para início das obras é de dois meses. Nos casos apurados pela polícia, nenhum prazo foi cumprido e a empresa não ressarciu os clientes.

Golpe antigo

Em 2001, dois homens foram presos por estelionato no final da investigação policial que descobriu o golpe da casa própria aplicado por duas madeireiras de Gravataí.

Na época, a polícia ouviu mais de 60 vítimas do golpe.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

FRAUDE NA OBTENÇÃO DE VAGAS EM CRECHES

ZERO HORA 12/08/2014 | 07h59

Polícia apura fraude na obtenção de vagas em creches de Canoas. Suspeitos usariam nomes de pessoas que precisavam de vaga para fazer pedido na Justiça


por Adriana Irion


Quatro pessoas foram presas nesta manhã no esquema de desvio de verbaFoto: Polícia Civil / Divulgação


A Delegacia Fazendária do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) desencadeou na manhã desta terça-feira uma operação para coibir fraudeenvolvendo falsas declarações para obtenção de vagas em creches em Canoas. Quatro pessoas foram presas e três foram conduzidas para prestar esclarecimentos.

São suspeitos de envolvimento um suplente de vereador, um advogado e umbacharel em Direito— dono de uma creche. A polícia apura também se há funcionários públicos envolvidos. Também estão sendo cumpridos mandados de busca na Secretaria Municipal de Educação.

Conforme a polícia, o grupo ingressava com ações na Justiça pleiteando vagas em creches municipais. Quando não era possível, a Justiça destinava um valor indenizatório para que o interessado buscasse uma creche privada. A instituição escolhida era de propriedade de um dos suspeitos, que embolsaria o valor sem beneficiar nenhuma criança.

Até o momento, a Polícia Civil apontou pelo menos 40 pessoas lesadas pela fraude — famílias que ficaram sem vagas em creches para seus filhos e que nunca receberam a indenização da prefeitura. O número de casos afetados pelo esquema pode ser ainda maior, já que a fraude viria ocorrendo há cerca de três anos.

Escritório de advocacia ofereceria ações indenizatórias a famílias carentes que não conseguiam vagas em creches
Foto: Polícia Civil, Divulgação

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

MILHAS INFINITAS

TV GLOBO, FANTÁSTICO Edição do dia 03/08/2014

Polícia diz que família forjava gastos e multiplicava milhas de forma infinita

Bruno Will e família são suspeitos de movimentarem R$ 39 milhões com gastos irreais no cartão de crédito, venda de milhas e viagens pelo mundo.





Acabou a festa. Nesta semana, a Polícia Civil realizou uma operação de busca e apreensão, expedida pela Justiça, na casa dos suspeitos.

Bruno Will rodou o mundo com a família. Estiveram na França, Suíça, Estados Unidos. Durante três anos, viveram um sonho.

Mas a polícia suspeita que todas essas viagens foram realizadas graças a um golpe, que teria sido bolado por Bruno, um técnico em informática, de 27 anos.

É em uma rua pacata de Padre Miguel, Zona Oeste do RJ, que começa e termina, segundo a polícia, uma armação cheia de criatividade. Digna de cinema.

Bruno e a família teriam descoberto como multiplicar de forma infinita suas milhas aéreas. Cada vez que uma pessoa usa o cartão de crédito, acumula pontos que podem ser convertidos em passagens aéreas, diárias de hotel e outros benefícios.

Segundo a polícia, eles forjavam gastos para poder usar cartões de crédito e, assim, criar milhas. Faziam isso emitindo boletos bancários falsos em que muitas vezes o pagador e o credor eram a mesma pessoa. Ou seja, o dinheiro saía de uma conta e entrava na mesma conta ou então na conta de alguém da família.

Os boletos eram pagos com cartões de crédito. Geravam mais milhas, trocavam essas milhas por passagens aéreas e também ganhavam dinheiro vendendo milhas para agências de turismo. Viajavam, emitiam boletos, inventavam gastos irreais no cartão de crédito e criavam milhas. E assim eles movimentaram R$ 39 milhões em um ano. Um valor incompatível à renda de Bruno, por exemplo, que declara receber R$ 1,7 mil por mês.

“O que chamou a atenção das autoridades foi a movimentação financeira totalmente distante da capacidade econômica dessas pessoas”, diz o delegado Flávio Porto.

Alertada pelo conselho de controle de atividades financeiras do Ministério da Fazenda, a Polícia Civil do Rio de Janeiro começou a investigar. Colheu provas. Na última quinta-feira (31), foi realizada uma operação de busca e apreensão expedida pela Justiça na casa dos suspeitos. Encontraram dezenas de cartões de crédito, extratos, passagens aéreas, reservas, boletos bancários e relatórios financeiros.

Esta semana também, a Justiça determinou a quebra do sigilo bancário, o bloqueio das contas e das milhas dos 15 investigados.

“Quadrilha, estelionato, falsidade ideológica, uso de documentos falsos e lavagem de dinheiro. Somadas, as penas podem chegar a 23 anos”, explica o delegado.

O Fantástico tentou ouvir os suspeitos. Bruno não quis receber nossa equipe. Por telefone, o pai de Bruno, Jefferson Will, negou qualquer irregularidade nas viagens e transações bancárias que a família realizou: “A gente vai provar tudinho que isso aí não passa de uma denúncia inexistente, uma denúncia falsa. Jamais fizemos alguma coisa errada para ter vantagem de alguma coisa”.

Depois de terem acesso as informações do inquérito, várias pessoas da família que são religiosas foram a uma igreja no sábado. O Fantástico foi até lá para tentar gravar uma entrevista com eles. A família não quis falar com a equipe.

Os investigados serão chamados para depor e não serão presos enquanto o inquérito não for concluído. A Justiça acredita que eles não oferecem risco à sociedade. Mas espera entender por que uma família de classe média, aparentemente unida e feliz, teria cruzado o limite da lei para fazer uma viagem bem mais cara ao mundo do crime.