quarta-feira, 14 de março de 2012

VESTIBULAR DA DESONESTIDADE

EDITORIAL ZERO HORA 14/03/2012

A Polícia Federal desarticulou ontem uma quadrilha que fraudava vestibulares de Medicina em cinco Estados brasileiros, prendendo mais de uma dezena de pessoas que promoveram a burla em 13 exames de instituições privadas. A organização e o modo de operação dos fraudadores surpreenderam os investigadores: eles se dividiam em três grupos, um cooptava os vestibulandos, outro os treinava para o uso do ponto eletrônico e um terceiro reunia especialistas que resolviam as provas. As respostas eram encaminhadas a um comando central da operação, que as repassava aos estudantes. Apesar de tanta engenhosidade, os trapaceiros foram flagrados e retirados de circulação, devendo responder pelos crimes de formação de quadrilha e estelionato. Nota 10 para a Polícia Federal.

Mas o mais intrigante e preocupante numa investigação dessas nem são os criminosos, pois estes estão sempre atrás de oportunidade para ganhar dinheiro por meios ilícitos. O que deve preocupar mais a sociedade são os estudantes que tentam se valer de fraudes para superar concorrentes. Que espécie de profissional pode se esperar de um universitário que faz uso de tal procedimento?

Não passa ano sem que a polícia seja chamada por universidades e instituições encarregadas de organizar vestibulares para investigar ocorrências desse tipo. O uso do chamado ponto eletrônico, um minúsculo aparelho que permite a recepção de sinal de rádio e que pode ser escondido no ouvido do candidato, é um artifício resultante dos avanços da tecnologia. Em Manaus, no ano passado, a polícia identificou um grupo liderado por um estudante de Física e formado por universitários que se inscreviam nas provas, filmavam as questões com uma caneta eletrônica e saíam antes para enviar as respostas aos estudantes que os contratavam. Outros recursos mais simples também são empregados por estudantes pouco honestos. Ainda no ano passado, no Paraná, 11 pessoas foram presas tentando se passar por candidatos inscritos, que forneceram seus documentos para falsários melhor equipados intelectualmente. Há, ainda, os que tentam colar utilizando métodos tradicionais, respostas escritas em local oculto, e os que apelam para o recurso do telefone celular escondido no banheiro.

Tais tentativas, somadas ao hábito pernicioso de alguns alunos em fraudar trabalhos de aula ou de conclusão de curso, refletem uma cultura de desonestidade que vem tirando o sono dos professores e de todas as pessoas que se preocupam com a formação integral e íntegra dos estudantes. Quando a educação vira caso de polícia, o país precisa parar para revisar seus conceitos morais e suas normas de convivência. A sociedade tecnológica aumentou a competição entre os indivíduos, mas nada justifica este vale-tudo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário