sábado, 22 de fevereiro de 2014

ESCRITÓRIO SUSPEITO



ZERO HORA 22 de fevereiro de 2014 | N° 17712


FERNANDA DA COSTA*



Advogados teriam lesado 30 mil clientes. De acordo com a Polícia Federal, golpe pode ultrapassar R$ 100 milhões


A Polícia Federal deflagrou, na manhã de ontem, uma operação para desarticular uma quadrilha formada, principalmente, por advogados e contadores. Por meio de investigação do Ministério Público Estadual, a Operação Carmelina visou a prender os suspeitos de terem lesado 30 mil pessoas em um golpe que pode ter desviado mais de R$ 100 milhões.

Advogado e proprietário de um dos maiores escritórios de advocacia de Passo Fundo, Mauricio Dal Agnol é suspeito de articular a quadrilha que teria se apropriado de R$ 1,6 milhão em indenizações que clientes deveriam receber após vencerem ações judiciais. É o valor que já teria sido comprovado pela PF. Investigadores, porém, suspeitam que o golpe possa superar os R$ 100 milhões.

A Polícia Federal encontrou na casa e no escritório do advogado grande quantidade de dinheiro em espécie e documentos, que futuramente serão analisados. Uma aeronave de propriedade de um dos envolvidos com o grupo criminoso – avaliada em US$ 12 milhões (cerca de R$ 28,5 milhões) – também foi apreendida em Passo Fundo. A PF já realizou contatos com Interpol para o cumprimento de mandado fora do país.

Com a ajuda da mulher, Márcia Fátima da Silva Dal Agnol, do advogado Pablo Geovani Cervi, e de mais duas pessoas, Vilson Belle e Celi Acemira Lemos, Dal Agnol teria lesado pelo menos 27 pessoas. Conforme a denúncia do MP, ele movimentou mais de R$ 200 milhões em 2010, período que coincide com a maioria dos casos de suposta apropriação indébita.

A investigação foi deflagrada após denúncia da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/RS) de que o grupo se apropriava da totalidade ou de parte dos créditos dos clientes sem que eles soubessem, tendo entre as vítimas pessoas idosas e doentes. Segundo o presidente do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB, Fábio Scherer, o ofício foi enviado pela subseção de Passo Fundo há cerca de dois anos.

Até o final da noite de ontem, o advogado estava foragido, com o direito de exercer a advocacia suspenso pelo presidente da OAB, Marcelo Bertoluci.

*Colaborou Lara Ely



Vítimas temem retaliação

Uma das supostas vítimas do esquema falou com Zero Hora sobre os transtornos que teve para receber o dinheiro da indenização que ganhou da Brasil Telecom (hoje Oi). Ao saber que teria direito ao ressarcimento, procurou o escritório de Dal Agnol.

Quando o advogado o comunicou do julgamento da ação, recebeu apenas um valor correspondente a 20% do total pago pela empresa de telefonia:

– Em vez de passar 80% do valor para minha família e ficar com 20%, ele nos passou 20% e ficou com 80%. Só soubemos disso tempo depois, quando outro advogado nos procurou dizendo que tínhamos sido passado para trás.

O representante comercial Áureo Oliveira, 44 anos, foi outra suposta vítima do advogado, mas teve melhor sorte. Morador de Canela, na Serra, ele contatou Dal Agnol por meio de um escritório de contabilidade, em 1999, para ganhar o valor das ações da antiga CRT. Passada mais de uma década do início da ação e sem resultado no processo, foi alertado por um sobrinho e resolveu buscar o auxílio de outro advogado. Há dois anos, ele ganhou a ação no valor de R$ 80 mil. Diante das denúncias, Oliveira pretende investigar se o seu processo não ficou com pendências.


O ESQUEMA

- Ao adquirir linhas telefônicas da antiga Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT), atual Oi, nas décadas de 80 e 90, consumidores tinham direito a participações em ações da antiga estatal.

- Em muitos casos, a conversão das ações em dinheiro teria sido abaixo do que elas valiam. Para terem direito ao valor total das ações, consumidores entravam na Justiça. O advogado Mauricio Dal Agnol, em Passo Fundo, se especializou neste tipo de serviço.

- Conforme a Polícia Federal, Dal Agnol seria o articulador de uma associação criminosa que se apropriava de parte dos ressarcimentos.

- A suspeita é de que quando as ações eram julgadas procedentes, ele se apropriava de parte ou da totalidade dos créditos dos clientes.

PRESTE ATENÇÃO

- Muitas vezes, os termos das ações são de difícil entendimento. Busque acompanhar o processo passo a passo e peça ajuda para entender os termos jurídicos.

- A melhor maneira de se proteger é optar pela contratação de um advogado de confiança.

- Prefira indicações e busque referências com a OAB.

- Desconfie sempre de promessas improváveis.

Fonte: Fonte: Fábio Scherer, presidente do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB

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