segunda-feira, 29 de setembro de 2014

GOLPE MILIONÁRIO EM MAIS DE 30 MIL CLIENTES

G1 FANTÁSTICO Edição do dia 28/09/2014

Acusado de aplicar golpe milionário em mais de 30 mil clientes é preso . Advogado é acusado de ter lucrado mais de R$ 100 milhões ilegalmente. Maurício Dal Agnol tem jato, apartamentos luxuosos e milhões na conta.

Avião particular, apartamentos luxuosos e milhões de reais na conta corrente. Conheça a vida de marajá de um advogado acusado de aplicar um golpe milionário em mais de 30 mil clientes. Ele foi preso esta semana, no Rio Grande do Sul.

Um jato particular para oito pessoas. O preço desse luxo: mais de R$ 20 milhões. O dono do avião é um advogado de 40 anos, preso segunda-feira (22), em Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Maurício Dal Agnol é acusado de dar um golpe em pelo menos 30 mil clientes dele e ter lucrado mais de R$ 100 milhões ilegalmente.

“Ele podia ter ficado rico sem ter lesado ninguém. O problema é que ele, como se diz no jargão popular, cresceu o olho”, diz Marcelo Silveira Pires, promotor de Justiça.

Em um telefonema, o advogado diz para a mulher Márcia que está querendo comprar um apartamento nos Estados Unidos.

Maurício: Estou olhando aqui apartamentos em Nova York. Quatro quartos, três banheiros.
Márcia: Uh, lá lá.

Como esse advogado do interior gaúcho conseguiu tanto dinheiro? Para entender a fraude, é preciso voltar no tempo: anos 80 e 90. Nessa época, ter uma linha de telefone fixo era caro e pouca gente tinha.

No Rio Grande do Sul, a CRT, Companhia Riograndense de Telecomunicações, era a empresa do governo gaúcho que vendia as linhas. Ao comprar o telefone, a pessoa, além de adquirir a linha, também se tornava acionista da empresa. Ou seja: virava sócio, dono de um lote de ações.

Em 1996, a CRT foi privatizada, vendida para uma empresa particular de telefonia. O preço das ações disparou. Os donos de linhas telefônicas da antiga CRT não receberam nada e entraram na Justiça para exigir indenização, já que eram acionistas. É aí que o advogado Maurício Dal Agnol entra na história.

Segundo a Polícia Federal, ele ia atrás dos clientes e entrava com os pedidos de indenização. Mas quando pegava o dinheiro, não repassava o combinado. A maior parte ia para o bolso dele. Quem se sentiu lesado trocou de advogado.

"Representamos clientes que teriam que ter recebido R$ 4 milhões, e receberam R$ 13 mil", diz Itamar Marcelo Prates, advogado de vítimas do golpe.

Em fevereiro deste ano, policiais conseguiram um mandado de busca e encontraram um quarto secreto na casa de Maurício Dal Agnol. Além de armas e de R$ 1,5 milhão em dinheiro vivo, havia muitos documentos falsificados na residência.

De acordo com as investigações, era esta papelada que o advogado costumava apresentar aos clientes, para enganá-los.

Fantástico: O que foi dito para o senhor?
Zilmar Barella: Que não tinha mais nada a receber. Que tinha terminado por ali e "olha aqui está o seu dinheirinho".

Há 4 anos, dona Vera recebeu de Maurício Dal Agnol R$ 73 mil de indenização. “Fiquei. Nossa Senhora. Era um milagre ter recebido essa quantia”, diz Vera Nalderer, aposentada.

Só que ela deveria ter recebido o dobro: quase R$ 150 mil. “Na época, eu podia ter comprado um apartamento. E que apartamento, há quatro, cinco anos atrás”, lamenta Vera Nalderer.

As investigações revelaram que Maurício Dal Agnol é proprietário de 950 imóveis. Um deles é um haras em Passo Fundo que tem na entrada as iniciais do nome do advogado: MD.

“Muitos cavalos vinham do exterior, da Holanda, de mais de R$ 1 milhão e ele fazia comércio também de cavalo”, conta Mário Luiz Vieira, delegado da Polícia Federal.

O advogado tinha um gosto especial por animais empalhados, todos comprados no exterior. Uma pata de elefante custou, segundo a Polícia Federal, US$ 30 mil. Esse valor, de cerca de R$ 70 mil, não chega nem perto, de acordo com as investigações, de outras extravagâncias e mordomias bancadas com o dinheiro dos outros.

Foi em janeiro de 2013 que Maurício Dal Agnol disse para Márcia, a mulher dele, que ia comprar um apartamento em Nova York. Ela quis saber de onde sairia o dinheiro e perguntou se era da conta da filha do casal.

Márcia: Vai tirar da poupança dela?
Maurício: US$ 2 milhões.
Márcia: Sério? Uh, lá lá.

Seis meses depois, Maurício Dal Agnol realmente comprou o apartamento em Nova York, perto do Central Park. O valor foi de US$ 5,8 milhões, cerca de R$ 14 milhões. O advogado nega as acusações.

“O Maurício Dal Agnol não ficou com o dinheiro dos clientes. Esses bens, ele adquiriu com dinheiro dele. Só que esses bens não foram adquiridos à vista. Tanto o jato quanto o apartamento em Nova York, ele financiou”, afirma Eduardo Sanz, advogado de Maurício Dal Agnol.

A Justiça bloqueou os bens e o dinheiro das contas correntes de Maurício Dal Agnol, que continua preso.

E o julgamento dele? Será que demora?

“Tanto o acusado como sua esposa arrolaram mais de 200 testemunhas e isso pode comprometer o desfecho do processo em um prazo mais acelerado”, diz Orlando Faccini Neto, juiz e diretor do Fórum de Passo Fundo.

Fantástico: Foi enganada?
Vera Nalderer, aposentada: Sim. E como. A gente foi lesada, né.

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