G1 FANTÁSTICO Edição do dia 28/09/2014
Acusado de aplicar golpe milionário em mais de 30 mil clientes é preso . Advogado é acusado de ter lucrado mais de R$ 100 milhões ilegalmente. Maurício Dal Agnol tem jato, apartamentos luxuosos e milhões na conta.
Um jato particular para oito pessoas. O preço desse luxo: mais de R$ 20 milhões. O dono do avião é um advogado de 40 anos, preso segunda-feira (22), em Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Maurício Dal Agnol é acusado de dar um golpe em pelo menos 30 mil clientes dele e ter lucrado mais de R$ 100 milhões ilegalmente.
“Ele podia ter ficado rico sem ter lesado ninguém. O problema é que ele, como se diz no jargão popular, cresceu o olho”, diz Marcelo Silveira Pires, promotor de Justiça.
Em um telefonema, o advogado diz para a mulher Márcia que está querendo comprar um apartamento nos Estados Unidos.
Maurício: Estou olhando aqui apartamentos em Nova York. Quatro quartos, três banheiros.
Márcia: Uh, lá lá.
Como esse advogado do interior gaúcho conseguiu tanto dinheiro? Para entender a fraude, é preciso voltar no tempo: anos 80 e 90. Nessa época, ter uma linha de telefone fixo era caro e pouca gente tinha.
No Rio Grande do Sul, a CRT, Companhia Riograndense de Telecomunicações, era a empresa do governo gaúcho que vendia as linhas. Ao comprar o telefone, a pessoa, além de adquirir a linha, também se tornava acionista da empresa. Ou seja: virava sócio, dono de um lote de ações.
Em 1996, a CRT foi privatizada, vendida para uma empresa particular de telefonia. O preço das ações disparou. Os donos de linhas telefônicas da antiga CRT não receberam nada e entraram na Justiça para exigir indenização, já que eram acionistas. É aí que o advogado Maurício Dal Agnol entra na história.
Segundo a Polícia Federal, ele ia atrás dos clientes e entrava com os pedidos de indenização. Mas quando pegava o dinheiro, não repassava o combinado. A maior parte ia para o bolso dele. Quem se sentiu lesado trocou de advogado.
"Representamos clientes que teriam que ter recebido R$ 4 milhões, e receberam R$ 13 mil", diz Itamar Marcelo Prates, advogado de vítimas do golpe.
Em fevereiro deste ano, policiais conseguiram um mandado de busca e encontraram um quarto secreto na casa de Maurício Dal Agnol. Além de armas e de R$ 1,5 milhão em dinheiro vivo, havia muitos documentos falsificados na residência.
De acordo com as investigações, era esta papelada que o advogado costumava apresentar aos clientes, para enganá-los.
Fantástico: O que foi dito para o senhor?
Zilmar Barella: Que não tinha mais nada a receber. Que tinha terminado por ali e "olha aqui está o seu dinheirinho".
Há 4 anos, dona Vera recebeu de Maurício Dal Agnol R$ 73 mil de indenização. “Fiquei. Nossa Senhora. Era um milagre ter recebido essa quantia”, diz Vera Nalderer, aposentada.
Só que ela deveria ter recebido o dobro: quase R$ 150 mil. “Na época, eu podia ter comprado um apartamento. E que apartamento, há quatro, cinco anos atrás”, lamenta Vera Nalderer.
As investigações revelaram que Maurício Dal Agnol é proprietário de 950 imóveis. Um deles é um haras em Passo Fundo que tem na entrada as iniciais do nome do advogado: MD.
“Muitos cavalos vinham do exterior, da Holanda, de mais de R$ 1 milhão e ele fazia comércio também de cavalo”, conta Mário Luiz Vieira, delegado da Polícia Federal.
O advogado tinha um gosto especial por animais empalhados, todos comprados no exterior. Uma pata de elefante custou, segundo a Polícia Federal, US$ 30 mil. Esse valor, de cerca de R$ 70 mil, não chega nem perto, de acordo com as investigações, de outras extravagâncias e mordomias bancadas com o dinheiro dos outros.
Foi em janeiro de 2013 que Maurício Dal Agnol disse para Márcia, a mulher dele, que ia comprar um apartamento em Nova York. Ela quis saber de onde sairia o dinheiro e perguntou se era da conta da filha do casal.
Márcia: Vai tirar da poupança dela?
Maurício: US$ 2 milhões.
Márcia: Sério? Uh, lá lá.
Seis meses depois, Maurício Dal Agnol realmente comprou o apartamento em Nova York, perto do Central Park. O valor foi de US$ 5,8 milhões, cerca de R$ 14 milhões. O advogado nega as acusações.
“O Maurício Dal Agnol não ficou com o dinheiro dos clientes. Esses bens, ele adquiriu com dinheiro dele. Só que esses bens não foram adquiridos à vista. Tanto o jato quanto o apartamento em Nova York, ele financiou”, afirma Eduardo Sanz, advogado de Maurício Dal Agnol.
A Justiça bloqueou os bens e o dinheiro das contas correntes de Maurício Dal Agnol, que continua preso.
E o julgamento dele? Será que demora?
“Tanto o acusado como sua esposa arrolaram mais de 200 testemunhas e isso pode comprometer o desfecho do processo em um prazo mais acelerado”, diz Orlando Faccini Neto, juiz e diretor do Fórum de Passo Fundo.
Fantástico: Foi enganada?
Vera Nalderer, aposentada: Sim. E como. A gente foi lesada, né.
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